terça-feira, 18 de dezembro de 2012

No Universo, tudo flui


(Ovídio)

Não há coisa alguma que persista em todo o Universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio… O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova.

Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite… Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida?

Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à criança nova… A planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas.

Entra, então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente.

Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem.

Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos como a neve dos caminhos.

Também nossos corpos mudam sempre e sem descanso… E também a Natureza não descansa e, renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados… Todos os seres têm sua origem noutros seres.

Existe uma ave a que os fenícios dão o nome de fênix. Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do suco da amônia. Quando completa cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada. Ali se acomoda e termina a vida entre perfumes. De suas cinzas, renasce uma pequena fênix, que viverá outros cinco séculos…

Assim também é a Natureza e tudo o que nela existe e persiste.




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