quarta-feira, 28 de março de 2018

sexta-feira, 23 de março de 2018

CASA VELHA



Ah, a casa velha, a velha casa de madeira! As fundações já meio gastas, as paredes desalinhadas, o telhado cheio de musgos e de líquens, demonstrando o andar inexorável do tempo, que nunca para.

O jardim cheio de velhas árvores encurvadas pelo vento, o tapete verde de relva espessa, flores de diversas cores desabrochando aqui e ali, apenas representando seu papel de guardiãs, de algo muito bonito que um dia aconteceu por lá.

A imaginação corre solta, sobre quais acontecimentos esta velha casa já teria visto, naqueles anos e anos contendo pessoas, vontades, amores, ilusões e desilusões... Pode ter havido uma família morando outrora, entre suas paredes ainda novas, sem pintura, o telhado vermelho do barro das telhas novinhas...

Um grande amor pode ter brotado entre aquelas paredes, enchendo o ar de júbilo, com a chegada das crianças, uma a uma, com seu choro infantil ecoando pelos quartos. A mãe zelosa com todos, esperando o pai voltar da roça com um jantar saboroso, a gurizada ao pé do fogão a lenha, em dias gélidos de inverno. Ou correndo à vontade pela relva, subindo nas árvores cheias de frutos, rindo, em sonoras gargalhadas, na doce e pura infância do interior.

Talvez tenha havido um riacho ali por perto, para onde a família corria nos dias quentes do verão, tomar um banho nas águas cristalinas, fazer um piquenique despreocupado nas longas tardes de estiagem. Onde meninos e meninas mais velhos encontravam-se para roubar os primeiros beijos...

O velho poço, local de encontro para conversas animadas entre as meninas, buscando água com os meninos, que preferiam as brincadeiras a cuidar das obrigações. Ah, talvez tenham havido reprimendas, pelo serviço ter atrasado.

Entre aquelas paredes, pode também ter havido uma grande desilusão, ou a perda de alguém em plena mocidade, deixando apenas a saudade do tempo que não volta mais. Ou uma velhice solitária, de uma mãe saudosa do filhos que se mudaram prá cidade...

Enfim, o amor pode ter durado a vida inteira. Os dois velhinhos, sentadinhos no balanço, ouvindo o suave farfalhar das folhas no outono, a lenha crepitando no fogão nas manhãs de geada e finalmente, um dia, num último suspiro, um derradeiro olhar daqueles que se despedem, sabendo que não é o fim...

Sobrou apenas a casa velha, com suas lembranças, apagadas por não haver mais memória. Mas a vida segue, em outro lugar, e um dia, voltará a se refazer...

terça-feira, 13 de março de 2018

Código de Honra das Mulheres Celtas


Este texto tem origem desconhecida e surge como provável Código de Honra das Mulheres Celtas

"Ama teu homem e segue-o, mas somente se ambos representarem um para o outro o que a Deusa Mãe ensinou: amor, companheirismo e amizade.
Jamais permitas que algum homem te escravize. Tu nasceste livre para amar, e não para ser escrava.
Jamais permitas que o teu coração sofra em nome do amor. Amar é um ato de felicidade, porquê sofrer?
Jamais permitas que teus olhos derramem lágrimas por alguém que nunca te fará sorrir.
Jamais permitas que o uso do teu próprio corpo seja cerceado. O corpo é a morada do espírito, porquê mantê-lo aprisionado?
Jamais permitas que o teu nome seja pronunciado em vão por um homem cujo nome tu nem sequer sabes.
Jamais permitas que o teu tempo seja desperdiçado com alguém que nunca terá tempo para ti.
Jamais permitas ouvir gritos em teus ouvidos. O Amor é o único que pode falar mais alto.
Jamais permitas que paixões desenfreadas te transportem de um mundo real para outro que nunca existiu.
Jamais permitas que outros sonhos se misturem com os teus, fazendo-os virar um grande pesadelo.
Jamais acredites que alguém possa voltar quando nunca esteve presente.
Jamais permitas que teu útero gere um filho que nunca terá um pai.
Jamais permitas viver na dependência de um homem como se tu tivesses nascido inválida.
Jamais te ponhas linda e maravilhosa a fim de esperar por um homem que não tem olhos para te admirar.
Jamais permitas que teus pés caminhem em direção a um homem que só vive fugindo de ti.
Jamais permitas que a dor, a tristeza, a solidão, o ódio, o ressentimento, o ciúme, o remorso e tudo aquilo que possa tirar o brilho dos teus olhos te dominem, fazendo arrefecer a força que existe em ti.
E, sobretudo, jamais permitas que tu mesma percas a dignidade de ser mulher."

 (Extraído de Spirit Book - www.espiritbook.com.br)


quinta-feira, 8 de março de 2018

A MULHER AO CENTRO DA VIDA


(Diego Engenho Novo)

Chegou ao meio da vida e sentou-se para tomar um pouco de ar. Não sabia explicar. Não era cansaço, nem estava perdida. Notou-se inteira pela primeira vez em todos esses anos. Parou ali, entre os dois lados da estrada e ficou observando as margens da sua história, a estrada da vida ficando fininha, calando-se de tão longe que ia.

Estava em paz observando a menina que foi graciosa, cheia de vida. Estava olhando para si mesma e nem notou. Ali, naquele instante estava recebendo um presente. Desembrulhava silenciosamente a sabedoria que tanto pediu para ter mais.

Quando a mulher chega à metade da estrada da vida, começa lentamente a ralentar o passo. Já notou como tem gente que adora conturbar a própria rotina, alimentar o próprio caos? Ela não. Não mais. Deixa que passem, deixa que corram, a vida é curta demais para acelerar qualquer coisa. Ela quer sentir tudo com as pontas dos dedos, ela quer notar o que não viu da primeira vez. Senhora do seu próprio tempo.

Percebeu, à metade da vida, que caminhou com elegância, que viveu com verdade, que guiou a própria sombra na estrada em direção ao amor. E como amou! Amor por si, pelos outros, amou em dobro, amou sozinha, amou amar. A mulher ao centro da vida traz a leveza que os anos teceram, pacientemente. Escuta bem mais, coloca a doçura à frente das palavras, guarda as pessoas com preciosismo. Aquela mulher já perdeu pessoas demais.

Ao meio da estrada, ela já não dorme tanto, mas sonha bem mais. Sonha pelo simples exercício de sonhar. Sonha porque notou que é o sonho que tempera a vida. Aprendeu a parar de ficar encarando as linhas do corpo. Seu espírito teso, seu riso aberto, sua fé gigante não têm rugas, nem celulite, sem encanação. Descobriu que o segredo é prestar atenção no melhor das coisas, nas qualidades das pessoas, nas belas costas que tem e deixa-las ao alcance da vista dos outros.

Sentada ali, ao centro da própria vida, decidiu seguir um pouco mais. Há mais estrada para caminhar, mais certezas para perder, mais paixão para trilhar. Não há dádiva maior do que compreender-se, que encontrar conforto para morar em si mesmo, que perdoar-se de dentro pra fora. Ao centro da vida ela descobriu que a gente não se acaba, a gente vai mesmo é se cabendo, a cada ano um pouco mais.

Diego Engenho Novo é escritor, autor do livro "Amar: Modo de Usar" http://palavracronica.com.br/