segunda-feira, 23 de julho de 2018

Escolha quem vai te acompanhar



"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." (Antoine de Saint-Exupéry)

O ensinamento é precioso, no entanto, como toda a sabedoria, precisa de um contexto adequado e dos devidos limites. Ser responsável por você não significa que ela tenha que suprir todas as suas carências nem atender aos desejos oriundos de um quadro emocional instável. Cativar é oferecer amor, isto não torna ninguém responsável pela felicidade alheia pela evidente impossibilidade da empreitada.

Ser responsável pelo outro é oferecer o melhor que temos, com o amor que já possuímos, de maneira generosa e honesta. Isto é bem diferente de estarmos obrigados a atender a todos os desejos alheios. Impor a alguém tamanha obrigação é um abominável exercício de dominação, que deve ser rejeitado com firmeza e delicadeza; não se pode aceitar a transferência de responsabilidade na busca pela própria plenitude.

O ensinamento do alquimista francês foi deturpado gerando cobranças insensatas nas afeições, que por se tratar de amor, a cobrança, por si só, se mostra indevida. Assim, conduzimos o raciocínio por vias tortuosas para que entreguem a felicidade que nos cabe buscar. Atolados na inércia pelo medo do trabalho e do desconhecido, ambos inerentes à busca e à evolução, reclamamos do mundo e amaldiçoamos a vida. Na tentativa de manipular a realidade, acabamos aprisionados na ilusão.

É comum negarmos o crescimento na ilusão de mantermos a permanente segurança que os adultos nos transmitem na infância. No entanto, tudo na vida muda porque todos precisam crescer. É necessário que seja assim. Sem transformação não há evolução. No entanto, temos medo das novas circunstâncias da vida por não saber se conseguiremos lidar com elas. Trazemos o vício ancestral de dominar tudo e todos que nos cercam ao invés de nos concentrar em equilibrar o universo que nos habita.

Estamos condicionados a impor ou manipular as escolhas alheias ao invés de simplesmente respeitá-las. Ao ansiar pelo controle do mundo, perdemos o poder sobre nós mesmos e desperdiçamos as maravilhas da vida. Somente com a alma madura nos sentiremos seguros. Vivemos no mundo o universo que nos habita; sejam os conflitos, seja a harmonia. Pensar que a dor que sentimos é de responsabilidade dos outros, é uma ilusão doce de realidade amarga.

Escolha quem vai te acompanhar, não apenas hoje, mas em todos os dias da tua vida. Não uma outra pessoa, pois não somos nem devemos nos sentir donos de ninguém. Isto é dominação, raiz de muito sofrimento. Para ser livre é indispensável respeitar a liberdade alheia. Mas, e quanto aos seus anjos e demônios? Quem determina a aproximação, seja de uns, seja de outros, é você mesmo. Luz ou sombras se definem em sua mente e em seu coração. Assim se constrói a realidade; todo o resto é ilusão. Aceite que as circunstâncias mudam quando a vida precisa avançar em outra direção. Negar a evolução é se aprisionar à ilusão; se opor à mudança é desperdiçar a melhor oportunidade oferecida por uma nova realidade.

Aos poucos os pensamentos se alinharam para compor um mosaico de ideias. Entendi que ao tentar controlar o mundo eu perco a mim mesmo e a vida. Ao contrário, ao harmonizar o meu universo interior, encontro-me comigo, me equilibro com o mundo e abraço a vida. Apenas a impermanência de todas as coisas pode me ensinar isto. A impermanência oculta a maestria da evolução ao descortinar o véu da ilusão.

Outros textos do autor em www.yoskhaz.com



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