sexta-feira, 23 de março de 2018

CASA VELHA



Ah, a casa velha, a velha casa de madeira! As fundações já meio gastas, as paredes desalinhadas, o telhado cheio de musgos e de líquens, demonstrando o andar inexorável do tempo, que nunca para.

O jardim cheio de velhas árvores encurvadas pelo vento, o tapete verde de relva espessa, flores de diversas cores desabrochando aqui e ali, apenas representando seu papel de guardiãs, de algo muito bonito que um dia aconteceu por lá.

A imaginação corre solta, sobre quais acontecimentos esta velha casa já teria visto, naqueles anos e anos contendo pessoas, vontades, amores, ilusões e desilusões... Pode ter havido uma família morando outrora, entre suas paredes ainda novas, sem pintura, o telhado vermelho do barro das telhas novinhas...

Um grande amor pode ter brotado entre aquelas paredes, enchendo o ar de júbilo, com a chegada das crianças, uma a uma, com seu choro infantil ecoando pelos quartos. A mãe zelosa com todos, esperando o pai voltar da roça com um jantar saboroso, a gurizada ao pé do fogão a lenha, em dias gélidos de inverno. Ou correndo à vontade pela relva, subindo nas árvores cheias de frutos, rindo, em sonoras gargalhadas, na doce e pura infância do interior.

Talvez tenha havido um riacho ali por perto, para onde a família corria nos dias quentes do verão, tomar um banho nas águas cristalinas, fazer um piquenique despreocupado nas longas tardes de estiagem. Onde meninos e meninas mais velhos encontravam-se para roubar os primeiros beijos...

O velho poço, local de encontro para conversas animadas entre as meninas, buscando água com os meninos, que preferiam as brincadeiras a cuidar das obrigações. Ah, talvez tenham havido reprimendas, pelo serviço ter atrasado.

Entre aquelas paredes, pode também ter havido uma grande desilusão, ou a perda de alguém em plena mocidade, deixando apenas a saudade do tempo que não volta mais. Ou uma velhice solitária, de uma mãe saudosa do filhos que se mudaram prá cidade...

Enfim, o amor pode ter durado a vida inteira. Os dois velhinhos, sentadinhos no balanço, ouvindo o suave farfalhar das folhas no outono, a lenha crepitando no fogão nas manhãs de geada e finalmente, um dia, num último suspiro, um derradeiro olhar daqueles que se despedem, sabendo que não é o fim...

Sobrou apenas a casa velha, com suas lembranças, apagadas por não haver mais memória. Mas a vida segue, em outro lugar, e um dia, voltará a se refazer...

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